22.5.20

Dia da Espiga


Recordarei para sempre o dia em que vi Lisboa mais bonita do que nunca. À chegada a Santa Apolónia, um grupo de escuteiros recebia as pessoas como um sorriso na cara e um ramo na mão. Ao deixar a estação, os olhos demoraram algum tempo a acostumar-se ao azulão do céu, a fazer lembrar as cores vívidas das antigas fotos Kodak, e à intensa luz que cobria a capital. Na Praça do Comércio, na Rua Augusta, no Rossio, no Chiado, no Saldanha, em todo o lado, lá estavam vendedores de ramos, todos diferentes, mas todos semelhantes. A ventania fazia voar pétalas de papoilas pelas ruas insolitamente floridas.

Envergonhada da minha ignorância, perguntei a que se devia a profusão de ramos por toda a cidade. É Dia da Espiga!, responderam-me, mas sem grandes explicações, que aparentemente toda a gente conhecia a tradição. Comprei um raminho com espigas ainda verdes (não me perguntem de que eram as espigas, que eu não sei dizer), malmequeres e papoilas a desfazem-se. E, assim, há cinco anos, rendi-me a uma tradição que não existe na minha terra. 

Diz a tradição que o Dia da Espiga se comemora na Quinta-feira da Ascensão, sendo feriado municipal em quase três dezenas concelhos (esta data deixou de ser feriado nacional em 1952). Segundo os relatos, o ramo deve ter espigas de trigo, centeio ou outro cereal (representam o pão), papoilas (representam o amor), malmequeres (representam a riqueza), oliveira (representa a paz e a luz), alecrim (representa a saúde) e videira (representa a alegria). Este ramo deve ser pendurado atrás da porta de casa, onde permanece durante um ano, até ser substituído por um novo ramo do Dia da Espiga.

Nos anos seguintes, instituímos o hábito de fazer o nosso próprio ramo com o que conseguimos encontrar na cidade, transformando esta tarefa quase numa caça ao tesouro. Alguém sabe onde encontrar papoilas em Lisboa?

Teresa, a minhota rendida ao Dia da Espiga

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