29.4.20

Regalar os olhos na Serra de Sintra

O tempo de confinamento começa a pesar, mas como não podemos deitar tudo a perder, cá estamos para mais um passeio por Portugal sem sair de casa. Hoje, vamos até à Serra de Sintra, mais especificamente à Barragem do Rio da Mula (Cascais) e à Peninha (Sintra).


Localizada no Parque Natural de Sintra-Cascais, a Barragem do Rio da Mula é um espaço muito aprazível para caminhadas, corridas, BTT, piqueniques, passear o cão, ler ou simplesmente desfrutar da calma e da beleza do local, sempre com cuidado (vimos uma queda de bicicleta digna dos vídeos de apanhados) e respeito pela natureza.


Uma placa indica-nos que estamos nas proximidades do Campo Base da Pedra Amarela, um equipamento da responsabilidade da Câmara Municipal de Cascais vocacionado para «a realização de atividades aventura e “outdoor”, permitindo o acampamento».


Aproveitando a deslocação, decidimos rever as belas paisagens desta zona, serpenteando pela serra, numa deslocação até ao Santuário da Peninha, localizado 486 metros acima do mar, em Colares.


Sempre que ali vamos e encontramos os espaços encerrados, lamentamos que o seu potencial não esteja a ser devidamente aproveitado. A nossa esperança é que se dê um destino a este património, de forma a que possa voltar a estar acessível ao público. As fontes documentais destacam o conjunto de painéis que reveste o interior da capela, que gostaríamos de ver.


Como se pode ler no site da Direcção-geral do Património Cultural, o Santuário da Peninha «insere-se num conjunto arquitectónico formado pela antiga ermida de São Saturnino (fundada por D. Pêro Pais na época da formação do reino de Portugal e hoje abandonada) e pelo palacete romântico de estilo revivalista, que se assemelha a uma fortificação, construído no ano de 1918». Segundo a mesma informação, «a actual capela remonta ao século XVII, tendo sido fundada por Frei Pedro da Conceição», sendo que a «campanha decorativa ter-se-á prolongado pelo menos até 1711».


Este local está associado à lenda da pastorinha pobre e muda, que ao procurar uma ovelha tresmalhada encontrou uma senhora que lhe disse que, quando chegasse a casa, chamasse pela mãe e procurasse pão. A jovem assim fez e, milagrosamente, falou e encontrou pão numa arca que anteriormente estava vazia. O sítio onde a senhora supostamente apareceu tornou-se local de culto, tendo sido erigida a capela de Nossa Senhora da Penha.


Sem a possibilidade de visitar o interior das construções, o mais espectacular é, indubitavelmente, a paisagem que se apresenta a quem sobe a este fabuloso miradouro, uma vez que se pode apreciar uma vasta faixa litoral. Diz-se que em dias limpos se consegue avistar desde o Cabo Espichel à Ericeira.

Veja na página do Sempre Prontos para Passear no Facebook mais fotos do que conseguimos avistar neste périplo.

26.4.20

A beleza de um jardim barroco


No primeiro Dia Europeu dos Jardins Históricos, que hoje se assinala, promovido pela European Route of Historic Gardens, recordamos o Jardim do Palácio dos Biscainhos, em Braga, considerado «um dos mais significativos exemplares da época Barroca do Norte de Portugal». Um espaço no coração da cidade que merece, sem dúvida, uma visita quando tudo voltar à normalidade. Veja mais fotos na página do Sempre Prontos para Passear no Facebook. 

17.4.20

Já é possível fazer visita 3D às Galerias Romanas de Lisboa


Visitar as Galerias Romanas de Lisboa é uma experiência fascinante, não apenas pela estrutura em si, mas também por toda a logística necessária para que tal seja possível. É preciso cortar o trânsito na Rua da Conceição, abrir um alçapão no meio da rua e bombear a água para que o espaço fique visitável.
As Galerias Romanas abrem, normalmente, apenas duas vezes por ano, suscitando muito interesse. Antigamente, nesses dias, havia filas intermináveis de pessoas à espera da sua vez. Desde que as marcações passaram a ser feitas através da Internet, as vagas esgotam rapidamente. 
As restrições para travar a pandemia da Covid-19 obrigaram a suspender, por agora, essas visitas. Mas nem tudo são más notícias e o Museu de Lisboa criou uma visita virtual às Galerias Romanas, num trabalho 3D realizado ela imARCH, que pode ser encontrada aqui.
(Re)veja também aqui a visita que fizemos às Galerias Romanas.

14.4.20

Passear por Montalegre

Montalegre é o destino de hoje deste roteiro por Portugal sem sair de casa. Recordamos um passeio que fizemos pelo concelho, há cerca de dois anos, que nos ficou na memória e no coração pela beleza das paisagens, pela qualidade da comida e pela hospitalidade dos anfitriões. Um local que é obrigatório visitar quando se puder voltar a viajar. Imperdível, mesmo!


Depois de uma noite descansada no Hotel S. Cristóvão – Venda Nova, a descoberta deste fascinante concelho, com um vasto território, que se estende por mais de 800 km², começou na Ponte da Misarela, também conhecida por Ponte do Diabo, localizada sobre o rio Rabagão, entre Ferral (Montalegre, distrito de Vila Real) e Ruivães (Vieira do Minho, distrito de Braga) (saber mais aqui).


Esta travessia é famosa pelas suas lendas, nomeadamente a que diz que um criminoso em fuga vendeu a alma ao diabo em troca da ponte que o levaria para o outro lado do rio ou a que atribui à ponte poderes milagrosos para a resolução de problemas de gestação.

Seguimos depois em direcção à Cascata de Pincães, na freguesia de Cabril, em território do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Após se estacionar a viatura, é preciso uma pequena deslocação a pé, sendo que este passeio permite apreciar a beleza da vegetação local. Com o tempo chuvoso, a imagem com que a natureza nos presenteou não podia ter sido mais bonita: um arco-íris na cascata.


A etapa seguinte desta visita promovida pela Câmara Municipal de Montalegre e pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal foi em Fafião, onde tivemos o primeiro contacto com o Ecomuseu de Barroso, que aqui tem o núcleo “A Vezeira e a Serra”.


Com a sede na vila, este projecto tem pólos espalhados pelos concelhos de Montalegre e Boticas, que preservam e divulgam as tradições dos locais onde estão implantados, convidando os visitantes a partirem à descoberta da riqueza do território.

Tendo em conta esta filosofia, o núcleo de Fafião, gerido pela Associação Vezeira, centra-se na tradição da pecuária e no espírito comunitário da aldeia.


Embora com menos animais do que noutros tempos, ainda nos dias de hoje há datas para a subida das vacas para o monte e dias para os proprietários zelarem pelos animais, definidos em função do número de cabeças de gado que cada um possui.

Dada a importância da pecuária para a vida da comunidade, percebe-se que, no passado, o lobo fosse considerado um inimigo. Daí que tenha sido construído o fojo dos lobos para os apanhar quando estes desciam à aldeia em busca de alimento, estrutura que agora a comunidade quer rentabilizar para divulgar a cultura local.


Depois de retemperadas as forças no Restaurante Fojo do Lobo, com direito a rabanadas de vinho tinto, seguimos para Pitões das Júnias.




Nesta deslocação, pudemos comprovar que as gentes de Montalegre têm razão quando dizem que é possível encontrar variações de clima, desde sol a neve, se se percorrer o concelho de uma ponta a outra. Quando chegámos, lá estava alguma neve à nossa espera, que ainda deu para testar a pontaria e improvisar alguns mini-bonecos.


Com uma hospitalidade insuperável, Pitões das Júnias recebeu-nos com uma fornada de pão de centeio acabado de cozer no forno comunitário.


Mais alguns passos e estávamos no núcleo Corte do Boi do Ecomuseu de Barroso. Este pólo está instalado no espaço onde antigamente era guardado o boi do povo, usado por toda a aldeia, sendo que o pagamento era feito em função do número de vacas que cada casa tinha.



Com o tempo a escassear, apenas tivemos oportunidade de ver ao longe o Mosteiro de Santa Maria das Júnias, um dos ex-libris desta localidade.


O serão consistiu num jantar no Restaurante Nevada – Montalegre, com dois motivos extra de interesse: a apresentação da Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã, que serviu um presunto absolutamente soberbo, e a presença do Padre Fontes, o icónico impulsionador do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes e das "Sextas-Feiras 13" em Montalegre, que fez uma das suas famosas queimadas galegas.



Na manhã seguinte, acordámos com um fino manto branco a cobrir a Casa da Avó Chiquinha – Montalegre, onde ficámos, o que fez as delícias dos apreciadores de neve.


Depois de um pequeno-almoço substancial típico do concelho, a que nos habituaríamos facilmente, fomos conhecer o núcleo principal do Ecomuseu de Barroso – Espaço Padre Fontes, nas imediações do Castelo de Montalegre.



Seguimos depois para Salto, para irmos até ao pólo do Ecomuseu de Barroso instalado na Casa do Capitão (representante da autoridade e do poder), que propõe uma viagem etnográfica a uma casa típica barrosã, através de mais de mil peças, desde alfaias agrícolas e mobiliário até trajes tradicionais.


Se até ali nos tínhamos deliciado com a carne barrosã no prato, foi então tempo de ver os animais a pastar calmamente, num cenário idílico. Note-se que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) declarou, em Abril de 2018, a região do Barroso – que engloba os municípios de Montalegre e Boticas – como património agrícola mundial.

A penúltima paragem foi em Salto, no Centro Interpretativo das Minas da Borralha, um núcleo do Ecomuseu de Barroso inaugurado em 2015 para preservar o legado daquele que chegou a ser o maior couto mineiro de volfrâmio do país.


Em funcionamento entre 1902 e 1986, as Minas da Borralha trouxeram desenvolvimento, transformando o local numa «autêntica cidade», segundo quem lá trabalhou. Com o seu encerramento, o espaço mineiro ficou ao abandono, incluindo a maquinaria, à mercê de pilhagens, do vandalismo e da voragem do tempo, e houve problemas sociais graves na comunidade.


A visita termina no ponto de partida, à mesa do restaurante do Hotel S. Cristóvão – Venda Nova, com os produtos da terra em destaque.


Naquele fim-de-semana, decorria o Festival Gastronómico das Carnes de Barroso, mas não é preciso nenhuma data especial para encontrar comida de excelência. Num concelho em que o porco é o "rei" das iguarias, ou não fosse a Feira do Fumeiro de Montalegre um dos principais certames do sector, a carne barrosã e o cabrito da serra prometem agradar aos paladares mais exigentes.

12.4.20

Passear por Vizela

Uma das vantagens desta viagem por Portugal sem sair do sofá é podermos ir até onde as memórias nos levam. Hoje, vamos até Vizela, um destino que merece uma visita quando tudo ficar bem e os espaços e estabelecimentos voltarem a abrir. 


Outrora considerada a “rainha das termas” de Portugal, Vizela encara o turismo como um dos motores de desenvolvimento do concelho. Um trunfo importante nesta estratégia foi a eleição do Bolinhol (pão-de-ló coberto com calda de açúcar) como uma das 7 Maravilhas Doces de Portugal. 


É precisamente pelo Bolinhol que começamos o périplo por alguns dos ex-libris do concelho. Na Casa do Pão de Ló Delícia, o proprietário, Joaquim Lopes Vaz, conta que Joaquina Pedrosa da Silva é considerada a criadora do “Pão de Ló Coberto de Vizella”. A história desta iguaria deve remontar a 1880, uma vez que esteve presente na Exposição Industrial Concelhia de Guimarães de 1884. 


Seguimos para o peso pesado das atrações do concelho: as termas. Alvo de um investimento de 5 milhões de euros, as Termas de Vizela reabriram em Fevereiro do ano passado, tendo como principal novidade uma enorme piscina dinâmica. Para além da vertente lúdica – e que bem sabe estar na piscina ou uma massagem Vichy com água termal –, existe uma importante parte terapêutica, uma vez que as águas termais de Vizela são conhecidas pelas suas propriedades curativas desde o tempo dos romanos.


Nesta visita promovida pela Câmara Municipal de Vizela e pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal, no passado mês de Setembro, fomos também até às Caves do Casalinho. O vinho “Três Marias” é, possivelmente, o mais conhecido desta firma, que está no mercado há 75 anos e leva o nome do concelho a lugares tão distantes como a China, EUA ou Brasil.


Os apreciadores de caminhadas vão, certamente, aplaudir o que se segue: subir a pé ao Santuário de S. Bento das Peras. Este é um destino também muito procurado pelos amantes de ciclismo, mas pode-se ir de forma mais rápida e confortável de carro. S. Bento das Peras é um local de culto e lazer, com uma vista panorâmica sobre uma vasta área e onde existem duas capelas, sendo que a mais antiga terá sido edificada «muito antes do século XVI» e restaurada em 1831.



Com os olhos regalados pela paisagem, dirigimo-nos para outro lugar imperdível: o Parque das Termas. Caminhe, aprecie o rio, o lago, as árvores de grande porte e aproveite o parque infantil e até o restaurante que há no interior. Atenção, não se surpreenda se vir alguém a tirar os sapatos e meter os pés numa fonte. Trata-se de água termal.



Para terminar com chave de ouro, nada melhor do que um Bacalhau à Zé do Pipo, considerado o prato do concelho, acompanhado por um vinho verde, antes do imperdível Bolinhol. E assim se completa o «triângulo dourado de sabores» de Vizela.


1.4.20

Património Mundial

Uma das estratégias para combater as imagens do terror que nos entram casa dentro é recordar os bonitos recantos do nosso país, onde voltaremos quando esta tormenta passar. O nosso percurso por Portugal sem sair do sofá casa leva-nos hoje até Mafra.


O Real Edifício de Mafra – conjunto composto pelo Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra – foi classificado, a 7 de Julho de 2019, como Património Cultural Mundial pela UNESCO.


«Estamos perante o monumento português que melhor reflecte o que podemos chamar de Obra de Arte Total: arquitectura, escultura, pintura, música, livros, têxteis... enfim, um património tipologicamente diversificado, coerentemente pensado e criteriosamente encomendado para este Palácio/Convento/Basílica/Tapada e que aqui configura uma realidade única», refere o director do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, no site daquele espaço, resumindo o que o visitante pode encontrar. 


Este é seguramente um conjunto a visitar quando tudo ficar bem, ainda para mais porque os carrilhões foram restaurados e voltaram a tocar, no início de Fevereiro, após quase duas décadas de silêncio. 


Até lá, é possível ficar a conhecer melhor o espaço, através da informação e dos passatempos que o Palácio Nacional de Mafra está a promover na sua página no Facebook.