As Galerias Romanas são um tesouro escondido nas entranhas
de Lisboa. Abrem apenas duas vezes por ano, com vagas que esgotam rapidamente. Nos
planos da Câmara de Lisboa está «a valorização e musealização» deste
criptopórtico, entre 2020 e 2021. O "Sempre Prontos para Passear" foi conhecer
esta estrutura com mais de dois mil anos.
Na Baixa de Lisboa, os turistas apontam os telemóveis e as
máquinas fotográficas em direcção a tudo e mais alguma coisa, contrastando com
quem apressadamente se dedica aos afazeres do quotidiano.
Tudo normal, até que se chega à Rua da Conceição e se nota algo
de diferente: há polícias no cruzamento com a Rua da Prata e o trânsito está
cortado, só circulando os eléctricos. Junto ao número 62, há uma abertura na
estrada, com pessoas a entrar e a sair. Há quem tente disfarçar o espanto, mas há
também quem se aproxime para espreitar e perceber que ali é a entrada para as
Galerias Romanas da Rua da Prata.
Esta estrutura esteve aberta ao público entre os dias 29 e
31 de Março, tendo recebido a visita de mais de três mil pessoas. Pela primeira
vez, houve visitas guiadas para escolas e em língua gestual portuguesa para
públicos surdos e com deficiência auditiva.
Depois de aberto do alçapão em plena rua, umas escadas
íngremes dão acesso a uma construção que remonta ao século I d.C.. Os olhos
ainda demoram alguns segundos a acostumar-se e a vislumbrar as galerias do
tempo em que Lisboa era Felicitas Iulia Olisipo, uma importante cidade da
Lusitânia.
Estamos em pleno criptopórtico, «uma solução arquitectónica
que criava, em zona de declive e de pouca estabilidade geológica, uma
plataforma horizontal de suporte à construção de edifícios de grande dimensão,
normalmente públicos», como refere o Museu de Lisboa.
Esta edificação romana do tempo do Imperador Augusto foi
descoberta em 1771, na altura em que se reconstruía a cidade, que tinha sido
arrasada pelo Terramoto de 1755. Outrora base dos grandes edifícios romanos, o
criptopórtico também serviu de alicerce para os imóveis pombalinos, continuando
ainda hoje a desempenhar a função para a qual foi concebido há dois mil anos.
Ao percorrer os diferentes espaços desta construção, é
inevitável reparar nas bombas para tirar a água. Quando se encontra fechado, o
monumento tem um nível de água superior a um metro de altura. Para que as
galerias possam receber os visitantes, é necessário fazer uma operação de
bombeamento da água de aproximadamente sete horas. Durante o período de
abertura ao público, é preciso assegurar que este local não volta a ficar
submerso, pois a água está continuamente a entrar na Galeria das Nascentes.
Durante a visita é explicado que é possível que a água das
ribeiras que correm no subsolo lisboeta tenha começado a entrar nas galerias devido
a tremores de terra, embora não se saiba precisar exactamente quando.
Devido a esta acumulação de água, as galerias serviram como
cisterna, o que levou a que tivessem ficado conhecidas como as “Conservas de
Água da Rua da Prata”. Durante o século XIX, estas águas ganharam fama de
terem propriedades terapêuticas para os olhos. Contudo, a água acabou por se
revelar imprópria para consumo e prejudicial para a saúde, pelo que o Senado mandou
selar as bocas de cisterna.
Chegou-se também a pensar que esta seria uma extensão das
grandes termas romanas da encosta do castelo, teoria que foi afastada na década
de oitenta, uma vez que a construção não tem a beleza que caracteriza as termas
romanas.
Porque se trata de um legado histórico, que continua a ter
uma importante função prática, as fendas existentes são permanentemente
monitorizadas por fissurómetros.
Tendo em conta a importância histórica e a curiosidade que desperta,
a Câmara Municipal de Lisboa planeia avançar com a «valorização e musealização
do criptopórtico», que deverá «abrir ao público entre 2020 e 2021», no âmbito
do projecto “Lisboa Romana | Felicitas Iulia Olisipo”, apresentado, ontem, pelo
presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, no Teatro Romano.
Segundo o Diário de Notícias, a autarquia lisboeta «quer
criar uma entrada acessível a todos», possível graças a «obras numa loja
próxima», e um «centro interpretativo».
De acordo com o mesmo jornal, por definir está a questão se
será possível a abertura «mais do que duas vezes por ano», dependente da
resposta dos especialistas sobre o impacto da retirada da água nesta estrutura.
É que, embora as galerias não tenham sido construídas para levar água, estão
submersas pelo menos desde que foram descobertas, em 1771.
Está previsto que as Galerias Romanas voltem a abrir em Setembro,
no âmbito das Jornadas Europeias do Património. Para evitar longas filas,
a inscrição é feita exclusivamente através de uma plataforma na Internet, sendo
a reserva confirmada após o levantamento do bilhete (no prazo de três dias) nos
núcleos do Museu de Lisboa: Santo António,
Teatro Romano ou Palácio Pimenta. Os bilhetes não levantados são
disponibilizados novamente na plataforma.
Os interessados devem manter-se
atentos ao sítio do Museu de Lisboa na Internet e à sua página no Facebook.
Veja mais fotos das Galerias Romanas da página do "Sempre Prontos para Passear".
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