11.4.19

Alçapão no meio da rua dá acesso às Galerias Romanas de Lisboa

As Galerias Romanas são um tesouro escondido nas entranhas de Lisboa. Abrem apenas duas vezes por ano, com vagas que esgotam rapidamente. Nos planos da Câmara de Lisboa está «a valorização e musealização» deste criptopórtico, entre 2020 e 2021. O "Sempre Prontos para Passear" foi conhecer esta estrutura com mais de dois mil anos.


Na Baixa de Lisboa, os turistas apontam os telemóveis e as máquinas fotográficas em direcção a tudo e mais alguma coisa, contrastando com quem apressadamente se dedica aos afazeres do quotidiano.

Tudo normal, até que se chega à Rua da Conceição e se nota algo de diferente: há polícias no cruzamento com a Rua da Prata e o trânsito está cortado, só circulando os eléctricos. Junto ao número 62, há uma abertura na estrada, com pessoas a entrar e a sair. Há quem tente disfarçar o espanto, mas há também quem se aproxime para espreitar e perceber que ali é a entrada para as Galerias Romanas da Rua da Prata.



Esta estrutura esteve aberta ao público entre os dias 29 e 31 de Março, tendo recebido a visita de mais de três mil pessoas. Pela primeira vez, houve visitas guiadas para escolas e em língua gestual portuguesa para públicos surdos e com deficiência auditiva.

Depois de aberto do alçapão em plena rua, umas escadas íngremes dão acesso a uma construção que remonta ao século I d.C.. Os olhos ainda demoram alguns segundos a acostumar-se e a vislumbrar as galerias do tempo em que Lisboa era Felicitas Iulia Olisipo, uma importante cidade da Lusitânia.


Estamos em pleno criptopórtico, «uma solução arquitectónica que criava, em zona de declive e de pouca estabilidade geológica, uma plataforma horizontal de suporte à construção de edifícios de grande dimensão, normalmente públicos», como refere o Museu de Lisboa.

Esta edificação romana do tempo do Imperador Augusto foi descoberta em 1771, na altura em que se reconstruía a cidade, que tinha sido arrasada pelo Terramoto de 1755. Outrora base dos grandes edifícios romanos, o criptopórtico também serviu de alicerce para os imóveis pombalinos, continuando ainda hoje a desempenhar a função para a qual foi concebido há dois mil anos.

Ao percorrer os diferentes espaços desta construção, é inevitável reparar nas bombas para tirar a água. Quando se encontra fechado, o monumento  tem um nível de água superior a um metro de altura. Para que as galerias possam receber os visitantes, é necessário fazer uma operação de bombeamento da água de aproximadamente sete horas. Durante o período de abertura ao público, é preciso assegurar que este local não volta a ficar submerso, pois a água está continuamente a entrar na Galeria das Nascentes.



Durante a visita é explicado que é possível que a água das ribeiras que correm no subsolo lisboeta tenha começado a entrar nas galerias devido a tremores de terra, embora não se saiba precisar exactamente quando.

Devido a esta acumulação de água, as galerias serviram como cisterna, o que levou a que tivessem ficado conhecidas como as “Conservas de Água da Rua da Prata”. Durante o século XIX, estas águas ganharam fama de terem propriedades terapêuticas para os olhos. Contudo, a água acabou por se revelar imprópria para consumo e prejudicial para a saúde, pelo que o Senado mandou selar as bocas de cisterna.


Chegou-se também a pensar que esta seria uma extensão das grandes termas romanas da encosta do castelo, teoria que foi afastada na década de oitenta, uma vez que a construção não tem a beleza que caracteriza as termas romanas.

Porque se trata de um legado histórico, que continua a ter uma importante função prática, as fendas existentes são permanentemente monitorizadas por fissurómetros.


Tendo em conta a importância histórica e a curiosidade que desperta, a Câmara Municipal de Lisboa planeia avançar com a «valorização e musealização do criptopórtico», que deverá «abrir ao público entre 2020 e 2021», no âmbito do projecto “Lisboa Romana | Felicitas Iulia Olisipo”, apresentado, ontem, pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, no Teatro Romano.

Segundo o Diário de Notícias, a autarquia lisboeta «quer criar uma entrada acessível a todos», possível graças a «obras numa loja próxima», e um «centro interpretativo».

De acordo com o mesmo jornal, por definir está a questão se será possível a abertura «mais do que duas vezes por ano», dependente da resposta dos especialistas sobre o impacto da retirada da água nesta estrutura. É que, embora as galerias não tenham sido construídas para levar água, estão submersas pelo menos desde que foram descobertas, em 1771.



Está previsto que as Galerias Romanas voltem a abrir em Setembro, no âmbito das Jornadas Europeias do Património. Para evitar longas filas, a inscrição é feita exclusivamente através de uma plataforma na Internet, sendo a reserva confirmada após o levantamento do bilhete (no prazo de três dias) nos núcleos do Museu de Lisboa: Santo António, Teatro Romano ou Palácio Pimenta. Os bilhetes não levantados são disponibilizados novamente na plataforma. 

Os interessados devem manter-se atentos ao sítio do Museu de Lisboa na Internet e à sua página no Facebook.

Veja mais fotos das Galerias Romanas da página do "Sempre Prontos para Passear".

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