14.4.20

Passear por Montalegre

Montalegre é o destino de hoje deste roteiro por Portugal sem sair de casa. Recordamos um passeio que fizemos pelo concelho, há cerca de dois anos, que nos ficou na memória e no coração pela beleza das paisagens, pela qualidade da comida e pela hospitalidade dos anfitriões. Um local que é obrigatório visitar quando se puder voltar a viajar. Imperdível, mesmo!


Depois de uma noite descansada no Hotel S. Cristóvão – Venda Nova, a descoberta deste fascinante concelho, com um vasto território, que se estende por mais de 800 km², começou na Ponte da Misarela, também conhecida por Ponte do Diabo, localizada sobre o rio Rabagão, entre Ferral (Montalegre, distrito de Vila Real) e Ruivães (Vieira do Minho, distrito de Braga) (saber mais aqui).


Esta travessia é famosa pelas suas lendas, nomeadamente a que diz que um criminoso em fuga vendeu a alma ao diabo em troca da ponte que o levaria para o outro lado do rio ou a que atribui à ponte poderes milagrosos para a resolução de problemas de gestação.

Seguimos depois em direcção à Cascata de Pincães, na freguesia de Cabril, em território do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Após se estacionar a viatura, é preciso uma pequena deslocação a pé, sendo que este passeio permite apreciar a beleza da vegetação local. Com o tempo chuvoso, a imagem com que a natureza nos presenteou não podia ter sido mais bonita: um arco-íris na cascata.


A etapa seguinte desta visita promovida pela Câmara Municipal de Montalegre e pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal foi em Fafião, onde tivemos o primeiro contacto com o Ecomuseu de Barroso, que aqui tem o núcleo “A Vezeira e a Serra”.


Com a sede na vila, este projecto tem pólos espalhados pelos concelhos de Montalegre e Boticas, que preservam e divulgam as tradições dos locais onde estão implantados, convidando os visitantes a partirem à descoberta da riqueza do território.

Tendo em conta esta filosofia, o núcleo de Fafião, gerido pela Associação Vezeira, centra-se na tradição da pecuária e no espírito comunitário da aldeia.


Embora com menos animais do que noutros tempos, ainda nos dias de hoje há datas para a subida das vacas para o monte e dias para os proprietários zelarem pelos animais, definidos em função do número de cabeças de gado que cada um possui.

Dada a importância da pecuária para a vida da comunidade, percebe-se que, no passado, o lobo fosse considerado um inimigo. Daí que tenha sido construído o fojo dos lobos para os apanhar quando estes desciam à aldeia em busca de alimento, estrutura que agora a comunidade quer rentabilizar para divulgar a cultura local.


Depois de retemperadas as forças no Restaurante Fojo do Lobo, com direito a rabanadas de vinho tinto, seguimos para Pitões das Júnias.




Nesta deslocação, pudemos comprovar que as gentes de Montalegre têm razão quando dizem que é possível encontrar variações de clima, desde sol a neve, se se percorrer o concelho de uma ponta a outra. Quando chegámos, lá estava alguma neve à nossa espera, que ainda deu para testar a pontaria e improvisar alguns mini-bonecos.


Com uma hospitalidade insuperável, Pitões das Júnias recebeu-nos com uma fornada de pão de centeio acabado de cozer no forno comunitário.


Mais alguns passos e estávamos no núcleo Corte do Boi do Ecomuseu de Barroso. Este pólo está instalado no espaço onde antigamente era guardado o boi do povo, usado por toda a aldeia, sendo que o pagamento era feito em função do número de vacas que cada casa tinha.



Com o tempo a escassear, apenas tivemos oportunidade de ver ao longe o Mosteiro de Santa Maria das Júnias, um dos ex-libris desta localidade.


O serão consistiu num jantar no Restaurante Nevada – Montalegre, com dois motivos extra de interesse: a apresentação da Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã, que serviu um presunto absolutamente soberbo, e a presença do Padre Fontes, o icónico impulsionador do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes e das "Sextas-Feiras 13" em Montalegre, que fez uma das suas famosas queimadas galegas.



Na manhã seguinte, acordámos com um fino manto branco a cobrir a Casa da Avó Chiquinha – Montalegre, onde ficámos, o que fez as delícias dos apreciadores de neve.


Depois de um pequeno-almoço substancial típico do concelho, a que nos habituaríamos facilmente, fomos conhecer o núcleo principal do Ecomuseu de Barroso – Espaço Padre Fontes, nas imediações do Castelo de Montalegre.



Seguimos depois para Salto, para irmos até ao pólo do Ecomuseu de Barroso instalado na Casa do Capitão (representante da autoridade e do poder), que propõe uma viagem etnográfica a uma casa típica barrosã, através de mais de mil peças, desde alfaias agrícolas e mobiliário até trajes tradicionais.


Se até ali nos tínhamos deliciado com a carne barrosã no prato, foi então tempo de ver os animais a pastar calmamente, num cenário idílico. Note-se que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) declarou, em Abril de 2018, a região do Barroso – que engloba os municípios de Montalegre e Boticas – como património agrícola mundial.

A penúltima paragem foi em Salto, no Centro Interpretativo das Minas da Borralha, um núcleo do Ecomuseu de Barroso inaugurado em 2015 para preservar o legado daquele que chegou a ser o maior couto mineiro de volfrâmio do país.


Em funcionamento entre 1902 e 1986, as Minas da Borralha trouxeram desenvolvimento, transformando o local numa «autêntica cidade», segundo quem lá trabalhou. Com o seu encerramento, o espaço mineiro ficou ao abandono, incluindo a maquinaria, à mercê de pilhagens, do vandalismo e da voragem do tempo, e houve problemas sociais graves na comunidade.


A visita termina no ponto de partida, à mesa do restaurante do Hotel S. Cristóvão – Venda Nova, com os produtos da terra em destaque.


Naquele fim-de-semana, decorria o Festival Gastronómico das Carnes de Barroso, mas não é preciso nenhuma data especial para encontrar comida de excelência. Num concelho em que o porco é o "rei" das iguarias, ou não fosse a Feira do Fumeiro de Montalegre um dos principais certames do sector, a carne barrosã e o cabrito da serra prometem agradar aos paladares mais exigentes.

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