Castro Laboreiro, Santuário de Nossa Senhora da Peneda ou Ermida são alguns dos locais obrigatórios para quem quer fazer um percurso pelo interior do Alto Minho, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês. Este é um percurso de paisagens soberbas, mas é preciso lembrar que estamos em áreas em onde há muitos idosos, por isso os visitantes devem ter o máximo cuidado para não contagiar quem vive nesta zona, para além de ser obrigatório o respeito pela natureza.
Em junho, depois de termos feito o percurso entre Santo António de Mixões da Serra e Ponte de Barca, voltámos à estrada para um roteiro mais ambicioso, em contacto com a natureza, sem troços de autoestrada no caminho.
Saímos de Braga com Germil (concelho de Ponte da Barca) posto no GPS, sendo que este “guia” nos levou por estradas serpenteando por entre o inconfundível verde do Minho. Pelo caminho, encontrámos vacas e cavalos a pastar e parámos em pequenos núcleos habitacionais para apreciar espigueiros, cata-ventos ou pináculos nos topos dos telhados.
Parámos junto à igreja de Germil, aldeia típica localizada nas montanhas da Serra Amarela. Aqui existe um mapa para orientar os visitantes e há placas informativas sobre os principais pontos de visita, até com tradução em inglês, destacando-se a igreja (de 1880), o cruzeiro, a eira, a cascata e o miradouro. Diz um desses placards que «Germil é referido pela primeira vez em documentos oficiais nas Inquirições Afonsinas de D. Afonso III, datadas de 1252».
Seguimos para Ermida (Ponte da Barca), uma aldeia onde só se vai de propósito, uma vez que não fica de passagem para lado nenhum. A experiência vale a pena, desde logo pelo caminho para lá chegar, literalmente no meio do monte. Um dos locais mais bonitos que vai avistar neste percurso é a Cascata da Ermida.
À chegada a Ermida há um miradouro onde deve parar, pois permite ter uma vista panorâmica da aldeia e dos montes em redor. Não se surpreenda se for barrado, aqui e noutros pontos, por vacas a pastar, mais interessadas na comida do que em dar passagem aos condutores, por isso habitue-se ao ritmo delas. E sim, o tamanho dos cornos é um forte incentivo para parar e... esperar!
Na Ermida é obrigatório ir ao Núcleo Museológico, instalado numa antiga casa florestal localizada nas imediações da igreja. Os ex-libris desta estrutura são a “Estátua Menir”, identificada numa parede interior de uma corte de gado, fora do seu contexto arqueológico, mas que parece enquadrar-se entre o Neolítico Médio e a Idade do Bronze, e a “Pedra dos Namorados”, uma lápide encontrada junto ao povoado romanizado de Bilhares, que pode ser um monumento de tempos pouco anteriores à conquista romana ou de uma época de plena romanização do Noroeste peninsular. Para além destes dois achados arqueológicos, também é possível encontrar espólio etnográfico desta pequena aldeia, à qual até aos anos 80 só se acedia por um carreiro íngreme.
Com muito para andar, hesitámos se devíamos ir à Branda de Bilhares. Recorde-se que o modo de vida nestas zonas de montanha foi marcado pela transumância, tradição que está cada vez mais em risco de desaparecer. Durante o Inverno, as pessoas e os animais viviam nas aldeias (inverneiras). Chegado o mês Março, era tempo de ir para o monte, para encontrar melhores pastos para o gado, onde se permanecia até ao Outono. Nestes locais, as chamadas brandas, eram construídas as cardenhas, pequenas casas de pedra, para acolher as pessoas que ficavam a vigiar o gado.
A curiosidade falou mais alto e lá fomos por um caminho com pedregulhos irregulares, que certamente será interessante para quem estiver de jipe. Uma parte do percurso foi feita a pé, por impossibilidade de prosseguir o percurso num carro utilitário. Foi com desilusão que encontrámos as construções em ruínas, embora existisse uma placa, já no chão, a dar conta de um projecto de recuperação daquela branda, num valor a superior a 92 mil euros, com apoio de mais de 78 mil euros de apoio da União Europeia.
Voltámos à estrada rumo ao Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez. Como era hora de almoço, fomos comer ao restaurante “Saber ao Borralho”, onde nos deliciámos com a carne de cachena DOP (vacas de pequeno porte e ágeis que vai encontrar em locais íngremes, que o levarão certamente a interrogar-se como é que elas lá foram parar) assada no forno com batatinhas, acompanhada por arroz de feijão tarrestre com legumes e vinho branco da Adega de Ponte da Barca. Terminámos a refeição com uma tarte de frutos silvestres, embora as sobremesas mais famosas do concelho sejam os Charutos dos Arcos – eleito uma das “7 Maravilhas Doces de Portugal”, este é um doce de origem conventual em forma de charuto com massa de hóstia ou obreia recheada com doce de ovos – e o Bolo de Discos – feito em camadas, em que os discos de massa são separados por doces de ovos.
A rebolar depois da refeição, fomos até ao Largo do Eiró, no centro da localidade, ver o pelourinho, classificado como monumento nacional desde 1910, que tem a particularidade de ter uma face antropomórfica e um triângulo no topo, a fazer lembrar um chapéu de três bicos.
Seguimos, depois, para a atracção turística mais conhecida do Soajo, o conjunto de 24 espigueiros implantados sobre um grande afloramento granítico, sendo o mais antigo datado de 1782.
Continuando por estradas de montanha, seguimos para o Santuário de Nossa Senhora da Peneda, na freguesia de Gavieira (Arcos de Valdevez), ao qual o Papa Francisco concedeu indulgência plenária (perdão dos pecados) na celebração dos 800 anos de culto mariano. Deixámos o carro e subimos a escadaria ladeada por 20 capelas, passámos pelo terreiro dos evangelistas, continuámos pelo escadório das virtudes (Fé, Esperança, Caridade e Glória), até chegarmos à igreja, terminada de construir em 1875. Descemos pela parte lateral, passando pelos quartéis (antigos dormitórios dos peregrinos).
Seguimos, então, para aquele que tínhamos definido como ponto final do percurso: Castro Laboreiro, concelho de Melgaço. Aqui, visitámos a igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Visitação, e vimos o pelourinho do século XVI, no largo contíguo ao templo. Embora houvesse muito mais para explorar, o nosso objectivo era subir às ruínas do castelo, do século XIII, mandado construir por D. Dinis, classificado como monumento nacional. O esforço de fazer a pé o caminho íngreme e irregular até ao castelo, impróprio para quem tem dificuldades motoras, é plenamente recompensado com a soberba vista panorâmica sobre a aldeia e as serras em redor.
Terminado o circuito planeado, era tempo de voltar para casa. Só que pelo caminho, com o sol de final da tarde já a enfraquecer, decidimos fazer um desvio para irmos até ao Mosteiro de Ermelo (concelho de Arcos de Valdevez), cuja construção é atribuída a D. Teresa, nos primeiros anos do século XII, embora a história de «um dos mais enigmáticos casos da nossa arte românica» não seja consensual, como se pode ler na página do Direcção-Geral do Património Cultural relativa aos «restos da igreja e da abadia cisterciense». Foi com a imagem desta construção emoldurada pela aldeia e pelo rio Lima que fomos embora, com a certeza de que voltaremos para descobrir mais locais igualmente deslumbrantes.
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