“Somos tradição” é o lema da Romaria de Santa Marta de Portuzelo, Viana do Castelo, que tem o seu ponto alto entre sexta-feira e
domingo. O ouro é o tema da edição deste ano, que mais uma vez aposta na
valorização da riqueza da cultura local.
As mordomas são as rainhas da romaria. Pela sua beleza, pelo
«traje preto, bordado a vidrilhos com casaca» que envergam e pelo peitilho de
ouro que exibem, estas jovens são as embaixadoras da festa.
Como refere o Regulamento do Desfile da Mordomia de Santa Marta de Portuzelo, as mordomas desta freguesia distinguem-se «pelo uso do véu
com tiara e com as pontas enroladas e presas com alfinetes de ouro. Envergam um
peitilho de ouro bem distribuído, sem exagero no peso e na quantidade. […] A Mordoma
leva na mão uma vela votiva, como símbolo da virgindade da moça que deve ser de
idade casadoira».
Para as jovens santamartenses, é um motivo de orgulho e
«quase um dever» serem mordomas da padroeira «pelo menos uma vez na vida, antes
do casamento».
A jovem retratada no cartaz deste ano é Lúcia Brito, que vai
desfilar pela 19.ª vez, concretizando, com «muito orgulho», «um sonho»
acalentado ao longo dos anos.
As mordomas transportam na mão a vela votiva, uma vela ricamente
decorada, outrora símbolo da pureza das jovens. Diz a tradição se a vela se
apagasse durante a missa era sinal de que mordoma já não era donzela.
Tal como acontece com o traje, Santa Marta orgulha-se de ter
uma vela votiva com características únicas, criada nos anos 50 pelo pai de Álvaro Sales, o artesão que actualmente faz este ícone da romaria.
Cada vela demora cerca de 5 horas a ficar pronta. O trabalho
exige minúcia para fazer, em papel de alumínio, 56 flores e 20 botões de rosa
vermelhos (ou azuis no caso de a mordoma estar de luto), elementos que depois
são colocados na vela e decorados com o fio “trena” n.º 9 – tem mesmo de ser n.º 9 – encaracolado. Esta vela tem
a particularidade de ter uma bobeche ou aparadeira, um recipiente de vidro para
evitar que os pingos da cera se espalhem.
A devoção a Santa Marta é o principal motor da festa, pelo
que o ponto central é a missa e procissão, domingo de manhã, constituindo uma
«impressionante manifestação de fé», em que largas centenas de pessoas cumprem
promessas. Alguns fiéis oferecem ouro à padroeira, pela que a imagem da santa
também leva um peitilho de ouro na procissão.
A vertente religiosa é preparada com muita dedicação,
incluindo a decoração da igreja, o treino dos coros de virgens que acompanham
os andores de Santa Marta de Santa Marta e de Santa Maria Madalena, o arranjo
dos andores, que inclui ramos de palmitos, alguns dos quais com cerca de cem
anos, e as vestes para a procissão.
Apesar do cariz religioso, festa é festa, e no Minho ninguém
deixa os créditos por mãos alheias em matéria de animação. A apresentação
cartaz foi feita no dia 26 de Maio, nos “Globos de Ouro”, um espectáculo feito por gente da terra, com
uma qualidade de pôr muitos humoristas profissionais a um canto.
O programa inclui não um, mas dois cortejos! O primeiro,
sexta-feira à noite, é dedicado às profissões e o segundo, sábado à tarde, ao
ouro. Fazendo jus ao nome de “coração do folclore”, a romaria inclui, sábado à
noite, a 3.ª edição do festival de folclore. Zés P’reiras, bandas de música e
Fernando Correia Marques (domingo à noite) juntam-se à animação. Veja o
programa completo e ponha pés ao caminho.
Comer
Para comer, pode optar pelo Café Snack Bar “O Poço” (Rua da
Linha do Vale do Lima, 83). Não se assuste com a parte do “café snack bar”
porque se come bem. Nota positiva para os deliciosos enchidos caseiros, arroz
de cabidela, leite creme e peras bêbadas, a juntar ao atendimento personalizado
do proprietário.
Dormir
A Villa Vale Flores (Rua Vale Flores, 12) é um B&B, com
piscina coberta e espaço para cozinhar. Num local sossegado, aposta nos
detalhes personalizados, como rosas naturais a perfumar as toalhas e o robe, “amenities”
dentro de saquinhos de tule ou iogurtes em recipientes de vidro ao pequeno
almoço. A simpatia do casal anfitrião, Marie e Manuel de Carvalho, é uma
mais-valia.
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