28.8.18

Romaria leva milhares à Serra d’Arga

Falar da Romaria de S. João d’Arga a quem não conhece esta tradição da Serra d’Arga é uma missão complicada. Como é que se explica que milhares de pessoas rumem, anualmente, a uma festa no meio do monte, onde não há mais nada à volta, com um cartaz em que o principal destaque são duas bandas de música da região em despique?


Talvez seja precisamente porque a simplicidade é tal que ouvir as bandas, as concertinas e os cantares ao desafio noite dentro, a comer, beber e conviver, no meio do monte, ganha outra dimensão, que faz desta festa única, genuína e imperdível.



A romaria de S. João d’Arga realiza-se anualmente nos dias 28 e 29 de Agosto, num mosteiro com o mesmo nome, localizado em plena Serra d’Arga, no concelho de Caminha, classificado como monumento nacional e considerado «um dos mais importantes testemunhos medievais da região».

Encravado no meio da serra, o mosteiro é composto por uma capela e por quartéis, que são construções à volta do templo, onde os romeiros pernoitam e, nos dias da festa, há tasquinhas no rés-do-chão. Em 2015, este espaço foi alvo de uma intervenção de recuperação que ascendeu a mais de 500 mil euros.

É este o epicentro de toda a festa dedicada a S. João Baptista, com um programa religioso que inclui missas e procissões. A fé leva muita gente a este templo, para rezar e cumprir promessas. Diz a tradição que os romeiros devem dar três voltas à capela e depois deixar uma esmola a S. João e outra ao diabo. Os fiéis pedem intercessão do santo sobretudo para a cura de quistos, verrugas e doenças de pele, mas também para arranjar casamento.




A maioria das pessoas vai, actualmente, de carro, o que gera filas com vários quilómetros, apesar de haver um parque de estacionamento para cerca de mil veículos. Contudo, há quem mantenha a tradição e faça o percurso a pé, como a Rusga a S. João d´Arga, que sai, hoje, às 12h30, de Caminha rumo à festa, com concertinas e farnel, como os antigos romeiros.

À chegada a S. João d’Arga, há quem assente arraiais, montando tendas para pernoitar, mesas e até churrasqueiras. No fim-de-semana já havia, aliás, gente acampada na mata junto ao mosteiro, assim como nos comes e bebes e a cumprir as suas promessas, antecipando o início da festa.


Quem não tem tenda para montar, tem à sua espera uma irresistível panóplia de comes e bebes. Não se espante se pela manhã vir romeiros a devorar chouriço, presunto, bifanas ou porco no espeto para “forrar” o estômago enquanto esperam, por exemplo, pelo cabrito da Serra d’Arga (uma especialidade local)... Junte-se a eles nos petiscos, que vale a pena.







Obrigatório é também o “chiripiti”, uma mistura de aguardente com mel, típica desta romaria, que é bebida a qualquer hora porque, afinal, há que manter a tradição...


Com o cair da noite vem o despique das bandas filarmónicas, este ano com as de Moreira do Lima e de Vila Nova de Anha, já experientes nestas andanças. Este é um espectáculo muito exigente para as bandas, em que o público de todas as idades forma autênticas claques e é implacável quando não gosta. Aqui é possível ver pessoas que, provavelmente, nunca ouviram um concerto de uma banda filarmónica a delirarem com as interpretações e a puxarem aos pulos pela sua preferida...

Noite dentro, o som das concertinas e dos cantares ao desafio ecoa pelo monte, convidando a um pezinho de dança.

Amanhã, o ponto forte é o programa religioso, mas os comes e bebes e o convívio continuam. Famílias inteiras, muitas munidas de concertinas, vão ano após ano a esta festa. Quando se lhes pergunta porque é que voltam, há quem resuma e diga que é porque a romaria é «espectacular». 

Sem comentários:

Enviar um comentário