Na época dos Santos, os bairros típicos de Lisboa
transformam-se. A agitação toma conta das ruas e ruelas, explodindo em euforia
na noite de Santo António, em que o espaço se torna demasiado pequeno para
albergar tantos foliões.
Gostamos dessa noite frenética, de percorrer os arraiais, de
fazer quilómetros pela cidade a petiscar e a dançar. Mas também gostamos das
ruas calmas, das ruelas estreitas sem vivalma, dos gatos que nos inspeccionam
com curiosidade, da roupa a secar ao vento, das janelas com cortinas de renda,
das sacadas com vasos de flores garridas, dos rádios que se ouvem em toda a
vizinhança, da idosa à soleira da porta que deseja “bom dia” a quem passa e dos
cheiros de iguarias em preparação que enfeitiçam o olfacto.
Foi esta a Lisboa que encontrámos no dia 1 de Maio. Saímos
de casa para ir visitar o Teatro Romano, a Igreja da Madre de Deus (Museu doAzulejo) e, se não estivesse muita fila, o Castelo de S. Jorge, mas demos com o
nariz na porta. Nós e milhares de turistas que percorriam as ruas em busca das
principais atracções de Lisboa, que estavam fechadas por ser Dia do
Trabalhador. Se os espaços dependentes do Estado estão fechados ou têm horários
desajustados da procura, não há motivos para estranhar que os monumentos,
palácios e museus nacionais tenham perdido quase 400 mil visitantes (7,8%) em
2018, apesar do aumento de turistas...
Depois da desilusão de termos encontrado o Teatro Romano
fechado, podíamos ter voltado para casa, mas o bichinho do passeio (e o facto de
termos conseguido lugar para estacionar naquela zona complicada) fez-nos ir até
à Sé Catedral, também conhecida por Igreja de Santa Maria Maior. Como se pode ler nos painéis informativos sobre as escavações arqueológicas realizadas neste local, que testemunham diferentes ocupações desde a época romana, «segundo a tradição, D. Afonso Henriques, depois da conquista de Lisboa, em 1147, fez erguer a nova catedral no lugar da mesquita moura».
Seguimos até ao Miradouro de Santa Luzia, que em dia de sol
forte apresentava uma magnífica vista sobre a cidade, os navios de cruzeiro
atracados no porto e o rio Tejo. Descemos no elevador de Santa Luzia,
inaugurado em 2015, que vence o desnível de cerca de 15 metros entre o
Miradouro de Santa Luzia e a Rua Norberto de Araújo, e fomos explorar as ruas
de Alfama.
O périplo continuou até ao Castelo de S. Jorge, que ficou
por visitar. Depois de encontrarmos mais uma porta fechada, seguimos caminho
como uma nova meta: a Igreja de S. Vicente de Fora. Segundo informação do Patriarcado de Lisboa, que tem aqui a sua sede, «a construção do Mosteiro de São Vicente de
Fora teve início durante a união dinástica entre Portugal e Espanha, estando no
trono Filipe I, e é um dos mais belos exemplares do maneirismo em Portugal.
Neste lugar existia, desde 1147, um Mosteiro do mesmo nome, mandado construir
por D. Afonso Henriques em agradecimento pela conquista de Lisboa aos Mouros
nesse mesmo ano».
Terminada a visita, optámos pelo caminho mais longo e
deambulante para regressarmos ao ponto de partida, no Largo do Correio-Mor, em
frente ao Palácio dos Condes de Penafiel (sede da CPLP), que incluiu passagem
pelo Largo do Salvador, engalanado com motivos das marchas populares e com um
cheiro delicioso a grelhados, a antecipar os dias de festa que já aí estão.
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